A Sabedoria Predestinada

“Mas falamos a sabedoria de Deus em mistério, outrora oculta, a qual Deus predestinou desde a eternidade para a nossa glória” (1ª Coríntios 2.7, RV)

O que podemos concluir da sabedoria de Deus com base nesse versículo? Sim, alguns de fato irão atentar primeiramente para a predestinação! Sabe por que isso acontece? Porque boa parte do povo cristão têm a mente bloqueada para a soberania de Deus. Talvez se apressem alguns e digam: Calma Samuel! Nesse versículo não temos nada sobre pessoas predestinadas para a salvação! Quem disse que não? Ainda que o sujeito que sofre a ação do verbo predestinar não sejam pessoas, como em outros casos, ainda sim temos ai uma evidência do poder selecionador de Deus.

O apóstolo Paulo fala sobre sabedoria. Ora, como podemos delimitar o que seja sabedoria? Se todos nós fôssemos contemporâneos do maior dos apóstolos, se tivéssemos vivido em seus dias, a noção que nos viria à mente logo de imediato seria da filosofia grega. É um pouco difícil associarmos hoje a sabedoria estritamente a filosofia, pois em nosso mundo globalizado tivemos contato com diversas culturas e vários conceitos diferente do que venha a ser sábio. De repente a idéia de sabedoria pode não ser a mesma para toda e qualquer pessoa. Por exemplo, para alguém que pesquisa ou tem alguma simpatia pela cultura oriental, o conceito de sabedoria fique mais evidente diante dos provérbios chineses, conhecidos por tratar de temas muito abrangentes e na maioria das vezes de sentido muito forte e ilustrativo. Dessa forma a primeira coisa que lhe vem à mente quando se ouve falar em sabedoria são os velhos provérbios dos sábios orientais.

Mas nos tempos bíblicos o conceito mais forte que havia de sabedoria era a filosofia grega. As pessoas sentavam nas praças para debaterem sobre as questões da vida, procuravam explicá-las, entendê-las. É nesse contexto que surge um grupo de homens galileus e iletrados falando de um tal Cristo, alguém que teria morrido e ressuscitado depois de três dias. Ora isso é impossível de se crê – talvez tenha dito algum dos pensadores da época. O que para eles é considerado como um atestado de loucura, na verdade é o manancial e a fonte de toda e verdadeira sabedoria.

“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, escândalo para os judeus, loucura para os gregos...” (1ª Coríntios 1.22).
 
Então isso quer dizer que para o resto do mundo, pregar a Cristo crucificado era considerado uma das coisas mais absurdas que se poderia ouvir. É um pouco difícil compreendermos isso porque nascemos em uma época totalmente diferente, já crescemos ouvindo falar de Jesus e já se estabeleceu no consciente coletivo que existe um Deus e de certa forma já temos algum conceito do que seja a salvação.  Mas não havia nada nem se quer parecido quando os pescadores da Galiléia começaram a pregar. Eles foram considerados loucos ainda nem tinha saído de sua nação:
 
“Todos, antônitos e perplexos, interpelavam uns aos outros: Que quer isso dizer? Outros, porém, zombavam, diziam: Estão embriagados!” (Atos 2.12).
 
Pessoas de várias nações estavam ali vendo homens e mulheres sem nenhuma instrução falando em idiomas que nunca tinha aprendido ou estudado, e falavam as grandezas de Deus. Não é estranho que o pensamento “racional” das pessoas ali presentes julgasse mal o evento que ocorria ante seus olhos. A  questão é que para racionalidade deles isso era impossível! Este é o problema da sabedoria humana: Ela não acredita nas coisas de Deus. Se para se manter um relacionamento com o Eterno é preciso acreditar  nele, e isso também implica em crer nas coisas que ele faz e opera, logo podemos discernir que a sabedoria humana é incapaz de reconhecer a Deus, pelo contrário; ela afasta ainda mais o homem da Divindade.  Razão pela qual diz o maior dos pecadores:
 
“Visto como, na sabedoria de Deus, o mundo não o conheceu por sua própria sabedoria, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura da pregação” (1ª Coríntios 1.21).

Não vemos com muita freqüência personalidades consideradas super inteligentes ou muito sábias diante da nossa sociedade moderna confessando a Cristo como Senhor. Recentemente perdemos uma das mentes mais brilhantes que a humanidade já teve, Steve Jobs, fundador da Apple. Este homem foi o responsável por boa parte da informatização do mundo. Suas idéias possibilitaram que o conhecimento estivesse ao acesso de qualquer pessoa em qualquer lugar da terra. Ele e Bill Gates criaram as funcionalidades para os computadores que hoje nos são tão comuns. Agora mesmo estou escrevendo esse texto graças a uma das idéias geniais que Jobs teve. E antes de morrer ainda nos deixou uma novidade que promete revolucionar mais uma vez a era digital. Com a criação dos tablets, o acesso a internet e a leitura de livros fica ainda mais acessível e confortável. Varias editoras agora estão publicando seus livros em versões eletrônicas justamente para se aproveitarem dessa tecnologia criada por Jobs que possibilita em um simples “computador portátil” se possuir mais de cinco mil livros, e ainda ser capaz de lê-los com o mesmo conforto e comodidade de um exemplar impresso. Por que estou falando sobre isso? Para poder mostrar que mesmo alguém que contribuiu de maneira tão grandiosa para o avanço da sociedade moderna e que beneficiou até mesmo a pregação do evangelho, não pode, contudo, alcançar a sabedoria de Deus. Steve Jobs era budista, e ainda antes havia se envolvida com outra religião indiana, além de drogas e vida dissoluta. Ele não foi um exemplo de como servir a Deus porque nunca o fez. Teve muita sabedoria, mas não a sabedoria do alto. Isso prova que não é a intelectualidade que possibilita ao ser humano conhecer a Deus, porque se fosse assim homens do grau de Steve Jobs entenderiam mais de Bíblia do que todos nós juntos. Fica absolutamente claro que a sabedoria de Deus é algo que ele exclusivamente revela a quem ele quer.
 
“Naquela hora, exultou Jesus no Espírito Santo e exclamou: Graça te dou, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelastes aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado. Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém sabe quem é o filho senão o Pai; e também ninguém sabe quem é o Pai senão o filho, e aquele a quem o filho o quiser revelar” (Lucas 10.21,22).
 
Fica claro que Deus dispõe de total liberdade para escolher a quem irá se revelar. Não está no homem essa iniciativa, mas unicamente no Eterno. Isto é maravilhoso porque nos revela mais uma vez a doutrina da soberania divina. A sabedoria verdadeira é uma dádiva, e como tal só é dada a quem aprouver a Deus concedê-la. 
 
Questionam-se muitos os motivos pelos quais Deus não se revela plenamente a todos ou o que ele leva em consideração para revelar-se apenas a alguns. Este tipo de pergunta tem por trás um falso senso de justiça que pode parecer à primeira vista muito coerente levando-se em conta que todo e qualquer ser humano é moralmente capaz de definir o que é plenamente justo e correto. Todos temos absoluta certeza do que é certo ou errado, mas isso não significa que podemos definir plenamente o que é justo e correto. Primeiro porque quando falamos sobre o que é certo ou errado, estamos nos referindo ao padrão de Deus. Este padrão é revelado na sua Lei. Por exemplo, a lei diz que não devemos matar. Nós sabemos que não devemos matar, e por quê? Porque a Lei nos diz. Mas se não tivéssemos a Lei como encararíamos essa questão? De uma maneira totalmente diferente, talvez até tivéssemos receio de matar alguém, mas não temeríamos está violando uma ordem de Deus, pois não teríamos nada da parte dele que nos proibisse de matar. Assim, quando dizemos que todo homem sabe o que é certo e errado, isso se refere ao padrão que já nos foi deixado claro nas Escrituras. Mas nenhum ser humano está apto a dizer precisamente o que é justo e correto, porque isso implicaria em dizer que o homem é justo e correto. Quero dizer que os homens sabem o que é certo enquanto Deus os revela o que é certo. Não havendo revelação de Deus, não pode ninguém definir precisamente o que é justo, somente ele mesmo o sabe. É por isso que certa vez diz:
 
“Porque os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos os meus caminhos, diz o Senhor, porque assim como os céus são mais altos do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos que os vossos pensamentos”. (Isaías 55.8,9).
 
Estive meditando sobre a mensagem por trás desse versículo. E fico me perguntando: Meu Deus, que comparação é essa? Imagino que alguém já tenha visto, pelo menos pela Tv, alguém saltando de pára-quedas ou fazendo algum esporte radical que exija isso. Quando se está lá em cima e se olha cá pra baixo a sensação é que todos aqui são formigas. Podemos também ter essa impressão quando estamos na cobertura de um prédio muito alto. Você não pode identificar uma pessoa aqui em baixo vendo-a lá de cima. Faça essa experiência um dia. Suba em um prédio muito alto e tente olhar pra baixo e reconhecer alguém. É simplesmente impossível. A distância nos impede de distinguirmos com clareza os traços de qualquer rosto ou objeto. O problema não é somente a distância, mas a nossa limitação. O aparelho ocular não tem tanta capacidade assim, é por causa dele que não conseguirmos enxergar algo que está tão distante de nós. Quando o Senhor nos diz que os pensamentos dele estão muito acima  dos nossos, está afirmando que não possuímos capacidade para compreedê-los na sua plenitude. Seria o mesmo que tentar enxergar a olho nu uma pedra no solo de Marte.
 
Não devemos questionar o por quê Deus age dessa ou daquela maneira. Os homens sim devem ser questionados e não o Senhor. Devemos humildemente nos prostrar diante dos desígnios divinos e amá-los do modo que eles são. Isso revela confiança, e confiança cega mesmo. Aquele que não confia cegamente em Deus ainda não teve um encontro real e superlativo com ele. Por outro lado aqueles que confiam se lançam de cabeça, corpo e alma sob sua palavra e amam aquilo que por ele foi instituído sem tirar e nem lhe acrescentar coisa alguma. Assim devemos ser nós - os que alcançamos a verdadeira sabedoria.

Pb. Samuel